Tudo sobre Teoria da Ubiquidade no Direito Penal
- Dario Silva
- 7 de jul. de 2023
- 4 min de leitura
Introdução Teoria da Ubiquidade no Direito Penal
A Teoria da Ubiquidade é um importante conceito no Direito Penal que visa resolver questões relativas à autoria e participação nos crimes.
Trata-se de uma doutrina que permite atribuir responsabilidade penal a indivíduos que,
mesmo sem executar diretamente a ação criminosa, contribuíram de alguma forma para a sua prática.
Neste artigo, discutiremos em detalhes essa teoria, seus fundamentos jurídicos, sua aplicação prática e exemplos relevantes. Leia mais…
Fundamentos da Teoria da Ubiquidade
A Teoria da Ubiquidade tem sua base no princípio da cooperação no Direito Penal, que reconhece a importância da participação de terceiros na prática de um crime.
Segundo essa teoria, não apenas o autor material, mas também aquele que concorre para o crime, deve ser responsabilizado penalmente.
Os fundamentos da Teoria da Ubiquidade estão ancorados no Código Penal brasileiro, que estabelece que aquele que, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
Dessa forma, é possível responsabilizar não apenas o executor direto do crime, mas também aqueles que participaram de sua concepção, planejamento ou auxiliaram de qualquer forma na sua execução.
Formas de Participação na Teoria da Ubiquidade
Existem diversas formas de participação que podem ser abrangidas pela Teoria da Ubiquidade. Entre elas, destacam-se:
Autoria mediata
A autoridade mediata ocorre quando alguém executa um crime utilizando um terceiro como instrumento.
Nesse caso, o autor direto é utilizado como uma espécie de “marionete”, agindo sob o comando de outra pessoa.
A Teoria da Ubiquidade permite atribuir a autoria do crime tanto ao executor direto quanto ao mandante, que age nos bastidores e manipula o executor para a prática do delito.
Um exemplo prático de autoridade mediata é o caso do líder de uma organização criminosa que, estando preso, dá ordens a seus subordinados para a execução de crimes.
Mesmo não estando fisicamente presente no momento da ação, o líder será considerado autor mediato dos crimes praticados pelos seus subordinados.
Coautoria
A coautoria ocorre quando duas ou mais pessoas colaboram diretamente na execução de um crime.
Nesse caso, todos os coautores são considerados autores diretos do delito, sendo responsabilizados pela sua prática.
Um exemplo de coautoria pode ser observado em um assalto a uma residência, no qual dois indivíduos entram na casa para subtrair bens.
Ambos são considerados coautores do crime, pois contribuíram ativamente para a sua execução.
Aplicação Prática da Teoria da Ubiquidade
A aplicação da Teoria da Ubiquidade exige uma análise minuciosa dos fatos e circunstâncias de cada caso concreto.
O juiz deve avaliar a participação de cada indivíduo envolvido, levando em consideração seu grau de culpabilidade e a extensão de sua contribuição para a prática do crime.
Para aplicar corretamente a Teoria da Ubiquidade, o magistrado deve considerar elementos como o grau de participação, a influência exercida sobre o executor direto do crime, a contribuição para a sua execução, bem como a intenção e conhecimento dos envolvidos.
É importante ressaltar que a Teoria da Ubiquidade não se limita apenas aos crimes dolosos, podendo ser aplicada também em casos de crimes culposos, desde que haja participação ativa do agente na produção do resultado criminoso.
Exemplos Práticos da Teoria da Ubiquidade
Caso do Mandante de Homicídio
Um exemplo prático da aplicação da Teoria da Ubiquidade é o caso de um mandante de homicídio.
Suponhamos que uma pessoa contrate um assassino para matar outra.
O executor direto do crime, ao cometer o homicídio, será responsabilizado como autor material.
No entanto, o mandante, mesmo não estando presente no local do crime, poderá ser responsabilizado como autor mediato, uma vez que comandou e ordenou a prática do delito.
Caso do Assalto Planejado
Imagine um caso em que um grupo de indivíduos planeja e executa um assalto a um banco.
Um dos integrantes do grupo é responsável por fornecer informações privilegiadas sobre o sistema de segurança do local.
Esse indivíduo, apesar de não estar presente fisicamente no momento do assalto, será considerado coautor do crime, pois sua contribuição foi essencial para a execução bem-sucedida do delito.
Como o advogado criminalista pode se utilizar da teria da ubiquidade na defesa do seu cliente
O advogado criminalista pode utilizar a Teoria da Ubiquidade de diversas maneiras na defesa de seu cliente.
Abaixo estão algumas estratégias que podem ser adotadas:
Desconstrução da autoria:
Se o cliente é acusado como autor material de um crime, o advogado pode buscar evidências que apontem para a possibilidade de outra pessoa ter agido como autor mediato, manipulando ou forçando seu cliente a cometer o delito.
Essa estratégia pode ser eficaz para questionar a autoria e a participação do acusado no crime.
Demonstração da participação de terceiros:
Caso existam indícios de que outras pessoas tenham contribuído para a prática do crime, o advogado pode buscar provas e testemunhas que atestem a participação desses terceiros.
Assim, é possível argumentar que a responsabilidade deve ser compartilhada entre todos os envolvidos, aliviando a culpa do cliente.
Enfoque na ausência de participação:
Se a acusação alega que o cliente teve algum tipo de participação no crime, o advogado pode argumentar que não há provas suficientes para sustentar essa alegação.
O advogado pode apresentar evidências de que seu cliente não teve conhecimento prévio do crime, não auxiliou na sua execução e não teve intenção de cooperar com os autores materiais.
Pleito pela redução da pena:
Mesmo que o cliente seja considerado responsável pelo crime, o advogado pode utilizar a Teoria da Ubiquidade para argumentar que sua participação foi mínima ou secundária, buscando a aplicação de uma pena mais branda.
Essa estratégia pode ser adotada principalmente em casos de coautoria, em que o advogado pode pleitear uma diminuição da pena com base na participação reduzida do cliente em comparação com os outros coautores.
É importante destacar que o uso da Teoria da Ubiquidade na defesa de um cliente dependerá das circunstâncias específicas de cada caso.
O advogado deve analisar minuciosamente as evidências, depoimentos e demais elementos disponíveis para construir uma estratégia sólida e coerente, buscando sempre a melhor defesa possível para seu cliente.
Conclusão
A Teoria da Ubiquidade desempenha um papel fundamental na atribuição de responsabilidade penal nos casos em que há participação de terceiros na prática de um crime.
Por meio dessa doutrina, é possível responsabilizar não apenas o executor direto, mas também aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a sua execução.
A aplicação da Teoria da Ubiquidade requer uma análise criteriosa dos elementos de participação, grau de culpabilidade e contribuição de cada indivíduo envolvido.
Os exemplos práticos apresentados ilustram como essa teoria pode ser aplicada em situações reais, permitindo a responsabilização de todos os envolvidos de acordo com a sua participação e culpabilidade.
Portanto, a Teoria da Ubiquidade representa um avanço no Direito Penal, proporcionando uma maior justiça na atribuição de responsabilidade penal, ao considerar não apenas a autoria material, mas também a participação e a influência exercida por terceiros na prática de um crime.
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